12.3.07
O Futuro sem Presente das Direitas
A notícia da participação de Santana Lopes num colóquio sobre o futuro das direitas, onde se encontrava também Manuel Monteiro, pouco aparecido e falho de iniciativas políticas desde há muito, pode trazer algum benefício ao actual ambiente político português.
Manuel Monteiro, que em dado momento parecia encarnar o surgimento de um verdadeiro Partido de Direita em Portugal, entretanto eclipsou-se. Terá andado entretido com algum curso de pós-graduação ou preparar-se-á para anunciar um súbito doutoramento em Ciências Políticas, daqueles com pretensões de carácter científico, verificável e falsificável, como Popper exigia das demais? Ignoramos. Desejamos, porém, que regresse mais sabedor, pelo menos das matérias que estudou.
Nos dias de hoje, com os graus académicos ao preço da chuva, ao alcance de qualquer modesta inteligência, sustentada em moderado esforço pessoal, a promoção científica e cultural do País tornou-se um êxito estatístico, incomparável com o registado em qualquer outro período da nossa História antiga ou recente.
No caso de Manuel Monteiro, sabemos que há uns anos esteve em França a frequentar um Curso da tal Ciência Política, tendo depois regressado para lançar um Partido de Direita a sério, sem medo, sem fantasias centristas ou democristãs, porém, garantidamente democrático.
Tarefa que, aparentemente, estaria ao seu pleno alcance: não tinha idade para ter sido Marcelista, muito menos Salazarista; fizera um tirocínio com o Prof. Adriano Moreira, a quem substituíra na chefia do CDS, facto já de si absolutamente notável, para um rapaz, ainda antes dos 30 anos, sem ter sequer uma Licenciatura concluída, que se achava assim a dirigir um partido conservador, até então apenas chefiado por afamados Doutores.
Tal feito, subitamente realizado, não poderia deixar de ser considerado como absolutamente extraordinário, mais que suficiente para firmar uma reputação política. A sua actuação à frente do Partido, com a colaboração, então fraternal e frutuosa de Paulo Portas, nem se pode dizer que não tenha sido produtiva.
Deu-lhe uma guinada para a Direita, mudando-lhe até a designação para CDS/PP, acrescentando ao incaracterístico Centro Democrático Social o nome, mais prático e mais moderno, de Partido Popular.
Com isso irritou, no entanto, Freitas do Amaral, fundador e primeiro presidente do Partido, mas centrista rigoroso, antes de evoluir para uma posição acentuadamente pró-socialista e anti-americana, que ele, todavia, garante ser tão-somente anti-Bush.
Esta progressiva inclinação valer-lhe-ia, no tempo do facundo Guterres, a nomeação para Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, cargo de escasso poder executivo, mas de inegável prestígio, condição apropriada ao seu legítimo orgulho de distinto Professor Universitário.
A verdade é que Monteiro acabou por perder a direcção do partido para o seu amigo do peito, Paulo Portas, com ele incompatibilizado, assim terminando inesperadamente uma dupla política até aí bem sucedida. De então para cá, a chamada Direita Portuguesa tem andado bastante dispersa, alguma ela, pasme-se, até se acoitou no seio do Partido Social Democrático ( PSD).
É por isto que a intervenção de Santana Lopes, na preparação de uma festejada reanimação política da Direita, pode trazer alguma vantagem ao clima de indefinição em que há longos anos o PSD vem navegando, numa espécie de federação de sensibilidades políticas que abarca gente da Direita mais conservadora até à defensora da Social-Democracia, de pendor laborista ou trabalhista, mais próxima do Centro-Esquerda do que do Centro-Direita, como normalmente o Partido se deixa classificar, quando não é, pura e simplesmente, arrumado na Direita, sem mais.
O que, diga-se com frontalidade, nada tem de mal. Ser-se de Direita, em termos do regular jogo político, é tão legítimo como ser-se de Esquerda, desde que se respeitem as regras desse jogo, i.e., aquilo em que consiste e sanciona o funcionamento do sistema democrático.
Só em Portugal foi possível uma tão profunda diabolização da Direita, a ponto de ela quase significar «o Fascismo» ou qualquer outra coisa medonha equivalente, de cariz totalitário. Que esta diabolização tenha sido, em grande parte, obra dos comunistas tem o seu quê de irónico, se não de trágico.
Eles, os comunistas, que durante decénios a fio deram cobertura àquela colecção de ditaduras do leste europeu, mascaradas de socialismo, científico, como no-lo pretenderam inculcar (lá vem sempre o adjectivo de científico, adoptado para emprestar credibilidade à coisa), foram os que, mercê de uma bem orquestrada máquina de propaganda, dirigida com mestria, reconheça-se, persistentemente espalharam essa espécie de maldição que sempre caiu sobre qualquer formação política que se quisesse situar à direita do socialismo, pior ainda se se assumisse como inequivocamente de Direita.
Se logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 isso ainda parecesse inevitável, pela longa identificação de uma parte significativa da Direita Portuguesa com o regime então derrubado, hoje, 33 anos passados sobre aquela data, 16 da queda da União Soviética, por falência global interna, tal situação afigura-se absolutamente insustentável, não fazendo nenhum sentido que comunistas definam quem é ou deixa de ser democrata.
Daí que toda a clarificação do espectro político-partidário nacional seja vista como um factor positivo, permitindo que todos se posicionem melhor no campo ideológico e doutrinário, mesmo sabendo que estes quesitos não têm hoje a importância de outrora.
Se Santana Lopes viesse a protagonizar um fraccionamento do PSD, para a criação de um partido de nítida orientação liberal, como já em tempos ameaçou ou insinuou querer fazer, julgo que todos acabariam por lhe ficar gratos.
Ver-se-ia então quem são actualmente no PSD os que ainda prezam a Social-Democracia, com as necessárias adaptações aos tempos que correm, mas ainda assim, sob a inspiração dos princípios que sempre nortearam os partidos que sob a influência daquela doutrina se formaram por toda a Europa.
Assim Santana Lopes professasse alguma coerência política e não continuasse a agir consoante os seus excessivamente versáteis estados de alma.
AV_Lisboa, 12 de Março de 2007
Manuel Monteiro, que em dado momento parecia encarnar o surgimento de um verdadeiro Partido de Direita em Portugal, entretanto eclipsou-se. Terá andado entretido com algum curso de pós-graduação ou preparar-se-á para anunciar um súbito doutoramento em Ciências Políticas, daqueles com pretensões de carácter científico, verificável e falsificável, como Popper exigia das demais? Ignoramos. Desejamos, porém, que regresse mais sabedor, pelo menos das matérias que estudou.
Nos dias de hoje, com os graus académicos ao preço da chuva, ao alcance de qualquer modesta inteligência, sustentada em moderado esforço pessoal, a promoção científica e cultural do País tornou-se um êxito estatístico, incomparável com o registado em qualquer outro período da nossa História antiga ou recente.
No caso de Manuel Monteiro, sabemos que há uns anos esteve em França a frequentar um Curso da tal Ciência Política, tendo depois regressado para lançar um Partido de Direita a sério, sem medo, sem fantasias centristas ou democristãs, porém, garantidamente democrático.
Tarefa que, aparentemente, estaria ao seu pleno alcance: não tinha idade para ter sido Marcelista, muito menos Salazarista; fizera um tirocínio com o Prof. Adriano Moreira, a quem substituíra na chefia do CDS, facto já de si absolutamente notável, para um rapaz, ainda antes dos 30 anos, sem ter sequer uma Licenciatura concluída, que se achava assim a dirigir um partido conservador, até então apenas chefiado por afamados Doutores.
Tal feito, subitamente realizado, não poderia deixar de ser considerado como absolutamente extraordinário, mais que suficiente para firmar uma reputação política. A sua actuação à frente do Partido, com a colaboração, então fraternal e frutuosa de Paulo Portas, nem se pode dizer que não tenha sido produtiva.
Deu-lhe uma guinada para a Direita, mudando-lhe até a designação para CDS/PP, acrescentando ao incaracterístico Centro Democrático Social o nome, mais prático e mais moderno, de Partido Popular.
Com isso irritou, no entanto, Freitas do Amaral, fundador e primeiro presidente do Partido, mas centrista rigoroso, antes de evoluir para uma posição acentuadamente pró-socialista e anti-americana, que ele, todavia, garante ser tão-somente anti-Bush.
Esta progressiva inclinação valer-lhe-ia, no tempo do facundo Guterres, a nomeação para Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, cargo de escasso poder executivo, mas de inegável prestígio, condição apropriada ao seu legítimo orgulho de distinto Professor Universitário.
A verdade é que Monteiro acabou por perder a direcção do partido para o seu amigo do peito, Paulo Portas, com ele incompatibilizado, assim terminando inesperadamente uma dupla política até aí bem sucedida. De então para cá, a chamada Direita Portuguesa tem andado bastante dispersa, alguma ela, pasme-se, até se acoitou no seio do Partido Social Democrático ( PSD).
É por isto que a intervenção de Santana Lopes, na preparação de uma festejada reanimação política da Direita, pode trazer alguma vantagem ao clima de indefinição em que há longos anos o PSD vem navegando, numa espécie de federação de sensibilidades políticas que abarca gente da Direita mais conservadora até à defensora da Social-Democracia, de pendor laborista ou trabalhista, mais próxima do Centro-Esquerda do que do Centro-Direita, como normalmente o Partido se deixa classificar, quando não é, pura e simplesmente, arrumado na Direita, sem mais.
O que, diga-se com frontalidade, nada tem de mal. Ser-se de Direita, em termos do regular jogo político, é tão legítimo como ser-se de Esquerda, desde que se respeitem as regras desse jogo, i.e., aquilo em que consiste e sanciona o funcionamento do sistema democrático.
Só em Portugal foi possível uma tão profunda diabolização da Direita, a ponto de ela quase significar «o Fascismo» ou qualquer outra coisa medonha equivalente, de cariz totalitário. Que esta diabolização tenha sido, em grande parte, obra dos comunistas tem o seu quê de irónico, se não de trágico.
Eles, os comunistas, que durante decénios a fio deram cobertura àquela colecção de ditaduras do leste europeu, mascaradas de socialismo, científico, como no-lo pretenderam inculcar (lá vem sempre o adjectivo de científico, adoptado para emprestar credibilidade à coisa), foram os que, mercê de uma bem orquestrada máquina de propaganda, dirigida com mestria, reconheça-se, persistentemente espalharam essa espécie de maldição que sempre caiu sobre qualquer formação política que se quisesse situar à direita do socialismo, pior ainda se se assumisse como inequivocamente de Direita.
Se logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 isso ainda parecesse inevitável, pela longa identificação de uma parte significativa da Direita Portuguesa com o regime então derrubado, hoje, 33 anos passados sobre aquela data, 16 da queda da União Soviética, por falência global interna, tal situação afigura-se absolutamente insustentável, não fazendo nenhum sentido que comunistas definam quem é ou deixa de ser democrata.
Daí que toda a clarificação do espectro político-partidário nacional seja vista como um factor positivo, permitindo que todos se posicionem melhor no campo ideológico e doutrinário, mesmo sabendo que estes quesitos não têm hoje a importância de outrora.
Se Santana Lopes viesse a protagonizar um fraccionamento do PSD, para a criação de um partido de nítida orientação liberal, como já em tempos ameaçou ou insinuou querer fazer, julgo que todos acabariam por lhe ficar gratos.
Ver-se-ia então quem são actualmente no PSD os que ainda prezam a Social-Democracia, com as necessárias adaptações aos tempos que correm, mas ainda assim, sob a inspiração dos princípios que sempre nortearam os partidos que sob a influência daquela doutrina se formaram por toda a Europa.
Assim Santana Lopes professasse alguma coerência política e não continuasse a agir consoante os seus excessivamente versáteis estados de alma.
AV_Lisboa, 12 de Março de 2007
Comments:
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Caro Amigo,
Acredita mesmo que 33 anos chegaram para fazer desaparecer a mentalidade fascista entre certos grupos sociais portugueses? Eu não acredito. E fundamento a minha descrença no espectáculo de neo-nazis na Alemanha depois de terem passado mais de 60 anos sobre o fim da guerra. A atracção pelo desconhecido, mas idealizado e mistificado, é muito grande entre os verdadeiros ignorantes... e, em Portugal, cada vez mais se cultiva a ignorância!
Não está - perdoar-me-á a força da expressão - o meu Amigo a ser ingénuo? Crédulo?
Acredita, realmente, que os comunistas alguma vez pensaram em tomar o Poder em Portugal e impor um regime dito socialista?
Olhe que não! Nem para isso tinham autorização de Moscovo!
Recuemos à época e situemo-nos no contexto internacional. A guerra no Vietname tinha acabado... o mundo queria paz, a URSS não desejava uma guerra na Europa, nem os EUA.
Realmente, o que interessava a Moscovo era que o processo de descolonização de Angola, Moçambique e Guiné fosse irreversível e pendesse para a área socialista. Em Portugal, Álvaro Cunhal tinha o seu papel histórico ligado a esse processo e nada mais. E a prova cabal disto mesmo é que 14 dias depois da independência e saída dos Portugueses de Angola se deu uma reviravolta política aqui. Uma reviravolta em que o PCP se descola da extrema-esquerda e a culpabiliza de todos os desacatos até então ocorridos.
Bem consciente disto que acabo, com brevidade, de lhe expor, estava Melo Antunes - o mais clarividente dos homens do Conselho da Revolução (a par de Costa Gomes). A ele se deve o travão na «caça às bruxas» que os fascistas, ainda bem «vivos» na época, tanto desejaram. Mas Melo Antunes e Costa Gomes sabiam que sem o contra-balanço do PCP a democracia em Portugal viraria rapidamente para a direita. Por isso apelou o primeiro à necessidade de se parar o golpe do «grupo do nove» por ali; por isso, todo o subsequente saneamento da extrema-esquerda e de alguns comunistas mais exaltados nas fileiras das FFAA.
Volte a ler os manifestos do PCP, o programa, e verá, agora, à luz da actualidade e do conhecimento que os anos trazem, que aquele partido quando falava em «democratizar» era mesmo democratizar como agora se vive em Portugal; mas aquele partido sabia que não era possível a democratização sem «quebrar a espinha» ao grande capital que sempre vivera acoitado à sombra do fascismo português. A democratização, em 1975, tinha de passar pela nacionalização da banca e dos seguros, tal como o liberalismo passara, em 1834, pela nacionalização dos bens das ordens religiosas (caceteiras e absolutistas).
Se não formos capazes de compreender os processos revolucionários, não comprendemos a História e tenderemos a diabolizar certos sectores que não são diabolizáveis, enquanto diabolizamos outros.
Realmente, e por mero acaso, também a minha formação académica, para além da castrense, se situa na historiografia, na sociologia e na politologia - que encaro como Ciência tão respeitável como a Matemática e a Física, que foram as primeiras que aprendi.
Acredita mesmo que 33 anos chegaram para fazer desaparecer a mentalidade fascista entre certos grupos sociais portugueses? Eu não acredito. E fundamento a minha descrença no espectáculo de neo-nazis na Alemanha depois de terem passado mais de 60 anos sobre o fim da guerra. A atracção pelo desconhecido, mas idealizado e mistificado, é muito grande entre os verdadeiros ignorantes... e, em Portugal, cada vez mais se cultiva a ignorância!
Não está - perdoar-me-á a força da expressão - o meu Amigo a ser ingénuo? Crédulo?
Acredita, realmente, que os comunistas alguma vez pensaram em tomar o Poder em Portugal e impor um regime dito socialista?
Olhe que não! Nem para isso tinham autorização de Moscovo!
Recuemos à época e situemo-nos no contexto internacional. A guerra no Vietname tinha acabado... o mundo queria paz, a URSS não desejava uma guerra na Europa, nem os EUA.
Realmente, o que interessava a Moscovo era que o processo de descolonização de Angola, Moçambique e Guiné fosse irreversível e pendesse para a área socialista. Em Portugal, Álvaro Cunhal tinha o seu papel histórico ligado a esse processo e nada mais. E a prova cabal disto mesmo é que 14 dias depois da independência e saída dos Portugueses de Angola se deu uma reviravolta política aqui. Uma reviravolta em que o PCP se descola da extrema-esquerda e a culpabiliza de todos os desacatos até então ocorridos.
Bem consciente disto que acabo, com brevidade, de lhe expor, estava Melo Antunes - o mais clarividente dos homens do Conselho da Revolução (a par de Costa Gomes). A ele se deve o travão na «caça às bruxas» que os fascistas, ainda bem «vivos» na época, tanto desejaram. Mas Melo Antunes e Costa Gomes sabiam que sem o contra-balanço do PCP a democracia em Portugal viraria rapidamente para a direita. Por isso apelou o primeiro à necessidade de se parar o golpe do «grupo do nove» por ali; por isso, todo o subsequente saneamento da extrema-esquerda e de alguns comunistas mais exaltados nas fileiras das FFAA.
Volte a ler os manifestos do PCP, o programa, e verá, agora, à luz da actualidade e do conhecimento que os anos trazem, que aquele partido quando falava em «democratizar» era mesmo democratizar como agora se vive em Portugal; mas aquele partido sabia que não era possível a democratização sem «quebrar a espinha» ao grande capital que sempre vivera acoitado à sombra do fascismo português. A democratização, em 1975, tinha de passar pela nacionalização da banca e dos seguros, tal como o liberalismo passara, em 1834, pela nacionalização dos bens das ordens religiosas (caceteiras e absolutistas).
Se não formos capazes de compreender os processos revolucionários, não comprendemos a História e tenderemos a diabolizar certos sectores que não são diabolizáveis, enquanto diabolizamos outros.
Realmente, e por mero acaso, também a minha formação académica, para além da castrense, se situa na historiografia, na sociologia e na politologia - que encaro como Ciência tão respeitável como a Matemática e a Física, que foram as primeiras que aprendi.
Meu Caro Amigo Luís Alves de Fraga,
Respondo-lhe com o maior gosto e respeito. Esclareço que não pretendo diabolizar ninguém nem sequer os comunistas, com quem discuti bastante na juventude.
Com alguns mantive, até hoje, laços de consideração e estima e mesmo de amizade duradoira, sem, todavia, escamotear divergências.
Numa coisa, porém, não transijo hoje : no aceitar que comunistas, que caucionaram toda a espécie de atropelos democráticos durante 70 anos, no Leste Europeu, venham a definir quem é ou deixa de ser democrata.
Como igualmente rejeito que se classifique de Fascismo o regime de Salazar, ainda que na fase inicial da Ditadura, sobretudo na década de trinta, tenham sido adoptadas algumas práticas desse regime, importadas da Itália de Mussolini, como a organização laboral, grémios e sindicatos e, da Alemanha de Hilter, a preparação pré-militar da Mocidade, gostos arquitectónicos, etc., ainda assim, insuficientes para taxar o regime de Salazar de fascista.
Faltavam-lhe elementos essenciais : o papel do Partido, a componente de massas, a violência exacerbada, o carácter espaventoso da afirmação do Poder, tudo coisas que desagradavam a Salazar, homem austero, recatado e avesso a ostentações.
Naturalmente que isto não faz dele um democrata, nem sequer ele o pretendia ser. O Regime foi, entretanto, abrandando, com os anos. Quando vem Caetano, então, já a contestação é aberta e a repressão menor. Por isso, foi possível aos Capitães conspirar e planear o seu derrube quase às claras.
Não faz nenhum sentido execrar Salazar e incensar Fidel de Castro ou Estaline ou Mao ou Ceaucescu ou o inefável Enver Hoxa, da delirante Albânia.
É isto que me aflige na visão comunista ou esquerdista-revolucionária.
Por isso me inclino para os partidos da Social-Democracia, mesmo incoerentes, como o PSD, mas, apesar disso, permitindo um ambiente de maior abertura, mais receptivos à mudança, à inovação e sem amarras ideológicas profundas como os mais à sua esquerda.
Mas não advogo a extinção do Partido Comunista, sobretudo em Portugal, em que os partidos centrais, moderados, parecem ter abandonado a defesa das classes laboriosas, só tendo olhos para Empresários e Gestores.
Alguém terá de assumir a defesa dessas classes, menos participantes da prosperidade económica, quando ela existe.
Sinceramente lhe digo ainda que não vejo nenhum ressurgimento de pensamento fascista em Portugal.
Apenas alguma nostalgia pela figura paternal de Salazar e das virtudes pessoais que ele cultivava como indivíduo, muito acima daquilo que os mais lídimos democratas hoje conseguem praticar. E quanto mais se vê, mais se reforça esse contraste. Dizem os ingleses que as comparações são odiosas e têm toda a razão.
Não sei se respondi à sua interpelação. Folgo em o ter como interlocutor. Um abraço.
Respondo-lhe com o maior gosto e respeito. Esclareço que não pretendo diabolizar ninguém nem sequer os comunistas, com quem discuti bastante na juventude.
Com alguns mantive, até hoje, laços de consideração e estima e mesmo de amizade duradoira, sem, todavia, escamotear divergências.
Numa coisa, porém, não transijo hoje : no aceitar que comunistas, que caucionaram toda a espécie de atropelos democráticos durante 70 anos, no Leste Europeu, venham a definir quem é ou deixa de ser democrata.
Como igualmente rejeito que se classifique de Fascismo o regime de Salazar, ainda que na fase inicial da Ditadura, sobretudo na década de trinta, tenham sido adoptadas algumas práticas desse regime, importadas da Itália de Mussolini, como a organização laboral, grémios e sindicatos e, da Alemanha de Hilter, a preparação pré-militar da Mocidade, gostos arquitectónicos, etc., ainda assim, insuficientes para taxar o regime de Salazar de fascista.
Faltavam-lhe elementos essenciais : o papel do Partido, a componente de massas, a violência exacerbada, o carácter espaventoso da afirmação do Poder, tudo coisas que desagradavam a Salazar, homem austero, recatado e avesso a ostentações.
Naturalmente que isto não faz dele um democrata, nem sequer ele o pretendia ser. O Regime foi, entretanto, abrandando, com os anos. Quando vem Caetano, então, já a contestação é aberta e a repressão menor. Por isso, foi possível aos Capitães conspirar e planear o seu derrube quase às claras.
Não faz nenhum sentido execrar Salazar e incensar Fidel de Castro ou Estaline ou Mao ou Ceaucescu ou o inefável Enver Hoxa, da delirante Albânia.
É isto que me aflige na visão comunista ou esquerdista-revolucionária.
Por isso me inclino para os partidos da Social-Democracia, mesmo incoerentes, como o PSD, mas, apesar disso, permitindo um ambiente de maior abertura, mais receptivos à mudança, à inovação e sem amarras ideológicas profundas como os mais à sua esquerda.
Mas não advogo a extinção do Partido Comunista, sobretudo em Portugal, em que os partidos centrais, moderados, parecem ter abandonado a defesa das classes laboriosas, só tendo olhos para Empresários e Gestores.
Alguém terá de assumir a defesa dessas classes, menos participantes da prosperidade económica, quando ela existe.
Sinceramente lhe digo ainda que não vejo nenhum ressurgimento de pensamento fascista em Portugal.
Apenas alguma nostalgia pela figura paternal de Salazar e das virtudes pessoais que ele cultivava como indivíduo, muito acima daquilo que os mais lídimos democratas hoje conseguem praticar. E quanto mais se vê, mais se reforça esse contraste. Dizem os ingleses que as comparações são odiosas e têm toda a razão.
Não sei se respondi à sua interpelação. Folgo em o ter como interlocutor. Um abraço.
Como todas as opiniões, há sempre algo discutível. De qualquer forma, quero cumprimentar o autor deste artigo tanto pelo conteúdo como pela forma. É interessante, oportuno e está muito bem apresentado. Só fiquei com uma dúvida: quem são Santana Lopes e Manuel Monteiro?
Não posso porém deixar em claro o comentário de Luís Alves de Fraga. Porque, no que concerne à História da descolonização e do papel do PCP nesse dramático episódio da nossa História, estou plenamente de acordo. E é a primeira vez que vejo escrito aquilo que há algumas décadas defendo. Que nunca esteve na mente dos dirigentes da URSS instalar o comunismo em Portugal. Porque, pura e simplesmente, tal estava fora da estratégia de Moscovo. Nunca falei pesoalmente com o meu camarada e Fraga mas parece que ele escutou muitas das minhas conversas sobre o assunto.
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Não posso porém deixar em claro o comentário de Luís Alves de Fraga. Porque, no que concerne à História da descolonização e do papel do PCP nesse dramático episódio da nossa História, estou plenamente de acordo. E é a primeira vez que vejo escrito aquilo que há algumas décadas defendo. Que nunca esteve na mente dos dirigentes da URSS instalar o comunismo em Portugal. Porque, pura e simplesmente, tal estava fora da estratégia de Moscovo. Nunca falei pesoalmente com o meu camarada e Fraga mas parece que ele escutou muitas das minhas conversas sobre o assunto.
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